AMADO

o
o
O coro harmonioso dos teus passos
anuncia tua magnífica aparição
um espetáculo cotidiano desejado

Como um sol adentras
a aquecer a casa úmida
o
então me ergues

Pois curvada de ausência te esperava
o
o

AMIZADE

O
O
Hoje vi umas flores murchas penduradas na sacada de um prédio. Pareceu-me um suicídio em andamento. Corri pra acudir. Mas elas não pularam. Fiquei aliviada. Fiquei intrigada... pois elas ficaram ali, suspensas.... com um olhar tão seco, que o choro era pra dentro. Eu sofri por elas, sem saber o motivo. Enquanto eu gritava silêncios por socorro, vi algo cortante. Em quase todas as sacadas haviam essas plantinhas dependuradas, caladas. Só aí me dei conta. Me vi uma delas. Essas flores desidratadas, abandonadas, são nossas amizades murchando. Amizade é assim, como a muito se diz. Uma plantinha que nós somos e que cultivamos. É preciso apesar da correria do dia a dia, apreciar e cuidar com alegria.
Esse Corre-Corre é apenas um jardineiro preguiçoso que fica desaconselhando o dia inteiro:
- Substitua essas flores de canteiro, pelas de plástico, é muito mais prático!
Ah! Jardineiro insensível! Não quer ter o trabalho do zelo. Não quer adubar com palavras carinho, afagar tirando os matinhos, regar com ouvidos atentos e se necessário apoiar com a varetinha do ombro amigo na hora da ventania.
Ah correria árida preguiçosa! Deixa vai! Deixa eu cuidar da minha plantinha! E não reclame se as flores de plástico não lhe abraçam com perfumes.
E você... vai lá, vai. As plantinhas da sacada, ali penduradas podem ser sua amizades secando... secando...
O
O

TEMPO

O
O

O tempo é esse menininho sapeca desenhando garatuja na parede do meu rosto.

- Ah! menino, peraí! que eu vou chamar o seu Pitangui.
O
O

CAMINHOS

o
o
........Quem ama recria
Encontra na alma vias
...........Caminhos leves
..........Esquinas vazias
O
.......................e segue
o
o

ENTRELINHAS II

O
O
é o meu melhor amigo. Sabe... ele tem nesse jeito de furacão, muitas brisas acumuladas. E na sua voz de trovão, as saudades do sereno retornando a terra. Sentiu aquele cheiro bom? É o seu hálito de primavera. Ah! e quando ele me disse não, foi pra eu me lembrar que amar é cuidar... e cuidar é coisa muito séria.
O
O

ESSÊNCIA

O
O

No espelho embaçado de paixão
Tudo era pleno e perfeito
quando o calor mais intenso abrandou
escorreu líquida a urgência
restou todo nitidez o amor
refletindo maior essência
ainda que expostos rugas e defeitos
O
O

ENTRELINHAS

o
o
e sempre que ele saía retornava me trazendo um sonho de panificadora. Eu reclamava, dizia que tava engordando ou que o sonho era dormido. Ele ficava triste e dizia que não sabia comprar outra coisa. Até que entendi... sonho não engorda. São os sonhos que nos nutrem. E tinha mesmo que ser dormido... que falha a minha, pois foi ao amanhecer que compartilhamos os nossos melhores planos. Entendi principalmente, que aquele gesto quotidiano, era só o seu jeito tímido de repetir eu te amo... eu te amo....eu te amo....0
0

ALÉM

o
o
Quando eu enxergar a ternura da pedra
e a luz da sombra que me cobre
Quando aprender a tratar terra árida
Pode ser que a palavra que me falta brote
o
o
o

MIMOS

o
0
Hoje fiz um carinho no meu calcanhar. Eu que o trato de forma tão funcional. A ele ligo chão estabilidade aspereza. Não costumo tocá-lo. O julgo um tanto quanto impuro. Contaminado. Mas hoje em um dia nublado, ouvindo suaves acordes teclados, deitei-me em posição fetal, braços entre pernas. Entrega. Minhas mãos tácteis sensíveis, percebendo a carência, tocaram meu calcanhar esquecido como um velho amigo. E ele dissipava desejos contidos de afagos e mimos. Quando dei por mim, o tocava sem preconceitos, deslizava palma e dedos em ternuras e doação. E percebi quando ele empolgado e lisonjeiro exclamou ao nobre cérebro: Eita! Como um cafuné é bom, heim companheiro!
O
O

NOITE

0
0
A noite com seu colo imenso
me abraça materna
a preparar-me para o amanhã
Canta-me antigos silêncios
me faz o afago de um sonho
e sempre deixa a luz dos raios de sol
acesa ao se ausentar
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0

EQUILÍBRIO

o
O
Tudo que domina
Mina o centro
Desloca o eixo
E lança a esmo
“Mas não se prende o vento
entre os dedos”
dos meus abismos
me ergo
0
O
O

BOM DIA

o
o
Sentada à mesa da refeição matinal, grata, retiro com delicadeza e destreza as sementes pequeninas, negras, resguardadas na liquidez embrionária madura, para não lhe ferir a nobre polpa, para que nada se perca do sabor e maciez do meu mamão papaia.
Alaranjada fruta no tom saúde, saúda o meu dia, folha em branco disponível. Na verdade conto com ela com muita fibra, espero que anti oxide naturalmente minha história e ajude na faxina das sobras. Em seu teor adocicado, apetência e suculência me convidam. Vou o extraindo. Acrescentando-me. Absorta o absorvo, em colheradas sobremesa.
Iguaria acessível da multiforme natureza, que com generosidade me serve e sacia na minha manhã vazia, o paladar da boca prateada, salivada e presenteada com uma porção de bênção em forma de flor e fruta. Por um momento, apenas o saboreio... enterneço e esqueço, da vida com sua lida bruta e novamente agradeço pelo dia, pela vida, pela alegria, pelo alimento e principalmente, pelo meu mamão papaia saboroso, já sem caroços.
o
o

RELÍQUIAS

o
O
Colhi alguns raios de sol e coloquei na caixa adornada das minhas coisas especiais. Pra quando o dia ficar nublado e trouxer aquele medo úmido, um cheiro de armário, eu te presentear com essa porção do sol que guardei, só pra ver teu rosto iluminado e aquecer teu coração com carinho. Aí vou te mostrar...na minha caixa tem também aquele sorriso largo que me entregou quando te conheci, aquele verso de improviso, o agradável tom dos teus risos... Guardei as vezes em que teu ombro foi meu abrigo, o gosto dos seus cuidados, o teu zelo. Apurei o perfume dos teus ideais, o teu cheiro. Pétalas brancas com as tuas verdades aspergi. Colhi com leveza, o encantamento e a cor daquele dia inefável, em que passamos a coexistir.
o
0

RETORNO

O
o
Hoje um lençol cinza forrou o céu de Brasília. Já não era sem tempo. Enfrentamos à pouco os dias mais quentes dos últimos quarenta e oito anos. Sem praia faltou ar condicionado pra refrescar o cerrado. Até as águas foram se refrescar nas nuvens. Agora o céu tá tumultuado. Vai despejar essas águas fugitivas no Lago.
o
o

BREVIDADE

o
0
Vou me enveredar.na brevidade do agora, vou transitar eternidades que habitam os gestos mais simples. Experiência fugaz é a existência, urge amor sem conta-gotas. Um ouvido atento.é torneira jorrando que o árido coração sorve ávido, brota a alma e dilata poros em flor.
O
O0

COMPOSTO

o
O
Porções de mim
Mármore
Marfim

Outras
Apelo
Calma contemplativa
Dinamitar de espelhos

o
0

PLANTANDO VERSOS (meu ócio criativo)

O
O
o
Planto hoje um verso, rego o destino. Crendo no futuro, preencho abismos. Germino no seco, converto o ócio em instrumentos, versos e questionamentos que vão além das teias, nas correntes climáticas da alma, errática. No mínimo ao vento lançados reciclam-se enigmáticos.
o
o

VAZIO

0 o
o

então será que nesse vazio solene
o silêncio se agigante denso
e esparrame nas páginas em branco
gravando seu eco

solidão
o
o

IMUNIDADE

o
O
Pra trilhar com coragem
Vou jogar fora as cascas
Vou ficar exposta
Pra ficar imune
dona de mim
e dos meus costumes
O
0

PRODUTO

O
O

Coloquei as horas ao meu serviço e voltei eufórica a vida. Então disse... chega de artifícios, chega de minerar minutos, correr viadutos, conter terremotos, sorver maremotos em busca de recursos. Veredas em precipício onde me perdi. Visão turva, não vi. Eu não vi o mar, o fim da tarde, os amigos. Não procurei o inimigo, assim como aprendi. Deixei passar o ócio, a conversa fora, a vida, o agora. Fui ação, atividade, fui vício, fui arte. Fui nada. Não fiz parte. Desejei as horas ao meu serviço, mas o ritmo da solidão me neutralizou.

O
O

ROTAS

o
o
Tenho mil possibilidades

E um vazio me acomete
desumano
calculista
Traçando rotas invisíveis
De planos vãos e findáveis
No rio turvo
da realidade
o
o

OBSERVATÓRIO

O
O

Ah! Esse vento impetuoso... apressado aonde ele vai? Poder que sustenta e aniquila, é ele quem me põe medo e o mesmo que me fascina. Ah! Esse mar em tormenta ... agitado aonde ele vai? dono de canções e de sinas, é ele quem me põe medo e o mesmo que me fascina. Ah! O homem... o homem... apressado, aonde ele vai?
o
O
O

TERAPIA

O
O

Minha causa é nobre, por isso é não me dobro. Os méritos próprios, por isso não me troco. "Então não tema, esse é o meu lema" : Felicidade não tem contra indicação. Sorrir é seguro e faz ruir muros.
O
O

VERSOS BÁRBAROS

0
..0...










A querida poeta Adriana Costa, dedicou-me este selo em seu
blog Versos Bárbaros, fiquei muito honrada e aqui faço
notório meus agradecimentos. Agora, gostaria também de
indicar blogs que amo de paixão:

1. Fernando Rozano - http://fernandorozano.blogspot.com/
2. Cosmunicando - http://cosmunicando.blogspot.com/
3. E La Nave Va - http://elanavev.blogspot.com/
4. Memento Mori - http://www.mementomori.com.br/
5. Casa de Paragens - http://casadeparagens.blogspot.com/
o
o

o
o
O
Na base das convicções
uma ousadia
crer que a cada dia
o novo viria
com o ímpeto dos ventos
e uma porção de grandeza
para dividir como o pão sobre a mesa
colhidos dos velhos dias
bocados de sabedoria e gentilezao
o
O
O
o

MAIS QUE IDADE

o
0
Enquanto o medo algema a alma em ferrolhos de nervos, grilhões do acaso, cativeiros do passado; em destemida fragilidade meu ser arremesso, despedaço o elo do temor e recomeço em franca liberdade. Viva a maturidade!
o
o

ANIMALESCA

O
O
Já escrevi como quem berra, já escrevi como quem late e um pouquinho como quem mia. Agora desejo escrever como quem pia ... piu! piu! ... E quem um dia me dera, ver-me passarinho, em uma tarde singela, cantarolando à sua janela.
O
O

PRESENÇA

O
O
Foi só silêncio
Esta noite vaga
Estranhamente povoada
Por adormecimentos primeiros


Onde alheia
A tudo e a nada
Perpetuavam lembranças

e aconchegos

Então vi
nitidamente
As eras escondidas
Entre sorrisos e vestidos
Avessos
estavam lá, desde sempre
Onde a velada inconsciência
Silenciosamente
Impera
Sem resistência
O
0



RESISTÊNCIA

O
O

Absorvo-me em exigências quase subumanas dos nossos dias. Desintegro-me. Pulverizo membros. Exponencio-me. Deforma-me a carne, película tênue, transitória, indiferente a ditadura contemporânea. Dias prováveis de impróprias convergências, inóspitas demandas, áridas vivências. Expectadora, esmurro virtual a tela ao fluxo da corrente trama: tecer escolhas próprias ou em anestésica máquina supersônica, atender as exigências quotidianas da convulsiva vida urbana.
O
O

LIMITE

O

Em um quintal árido, vejo a estiagem da esperança. Brincam crianças, dança o vento, revirando folhas secas. Espiam a vida, alheias em brincadeiras, indiferentes ao próprio sofrimento, infância em abandono, sem pátria ou bandeira. Um fio entre o futuro e o limite do muro.
O

O

INQUIETAÇÃO

o
o
Em meu finito espaço
Verto inquietações
Espalmo o tempo
Com palavras subjetivadas
Venço o verso

No universo vago

Lanço projéteis
Abro clareiras
Em busca do todo
Tateando estilhaços
Onde as respostas fogem
oooo incógnitas
Entre quatro paredes de aço.
o
o

EFEITO AMOR

o
o
Quando meu amor se faz dia
ooo Irradia
Se em noite transfigura
ooo Ternura
Se o meu amor aumenta
ooo Flores na varanda
ooo Jantar à luz de velas
Ao que meu amor se abala
Maior amor à tona
ooo Revela
Quando meu amor transborda
ooo Jorra
ooo Fecunda
ooo Terras férteis
ooo torna.

0

CELEBRAÇÃO

O
O
Eu saberei de ti, meu amor, por todos os dias, conquistar-te-ei diariamente, vou guardar o teu cheiro e gerar tua semente. Buscarei de continuo a amplidão da sabedoria, para que não me falte palavras quando nas longas tardes descortinarmos a existência. E recostada em teus braços entre livros e felicidades apreciar teus nobres pensamentos.
Vou cuidar de você, vou ser sol e mar. Vou ser teu refúgio, tua rica morada. Vou levar ao teu encontro o cheiro da terra molhada, para contigo celebrar o renovo da vida.
Para que após longos dias ao teu lado vividos, no regozijo da tua presença, no desfrutar da tua essência, eu possa olhar-te sereno e gentil, tocar teus cabelos morenos e sossegar no teu fôlego. Deitar-me ao teu lado e rir-me de uma vida farta de amor, regada ao teu doce sabor.
Assim quero selar contigo, a mais bela das histórias e fazer novo o que tempo faz velho. Ser para tantos inspiração e para outros conselho.
Vem meu amado, em quem minha alma se alegra. Celebra sem reservas, pois sem vacilar nos defendemos. Minha foi tua causa, minha guerra foi tua lida. Assim fomos feitos fortes, subimos montanhas descemos abismos, vencemos desníveis e empecilhos.
Faz de mim a cada dia, teu campo de flores, colhe aromas, sacia-te em sabores. Que seja para sempre assim, terno e profundo, divino e meramente humano, delicado e valente, pois a ti meu amor, conquistarei diariamente.
O
O

CRISE

0
Apresentou-se diante de mim um Fogo intenso que bradava ameaças de grande incêndio e devastação, a tal ponto, de arrasar com minha pequena vinha. E nos seus olhos que ardiam desolações, crepitava a violência, avaro e ira. Eu temi e pranteei. Temi pela lavoura, pelos que dela sobreviviam e pela esperança semeada.

Porém, levantei-me do terror e do pranto que me murchou o olhar da colheita por um instante. E vislumbrei no horizonte as horas da esperança, a guerra contra as pragas, o suor, os calos encravados na palma da mão e a ânsia da espera quase materna.

Então, firmou-se meu olhar. Cerrei os punhos, sem violência, mas com a resignação de quem protege sua cria. E disse: Fogo, por que desejas devastar minha vinha? Em que te apraz à destruição obstinada se ao final de teu intento, deixa-me as cinzas da tua própria extinção? Por entre as gerações fez-se notório teu nome, pois te ti o aquecer, moldar e forjar. De ti a luz do astro que dormita na escuridão. Não, não te consumas em ruínas e danos, mas faze perpétuas tuas chamas. Desfaça o furor das labaredas impetuosas e momentânea. Goza da perenidade de ser fonte no esplendor do lume das eras.

Lancei assim minhas palavras sobre as chamas. E elas caiam como respingos tímidos que ressoavam mais intensos a cada momento. Até que transbordaram. Até que conteve o Fogo, e a ira e a desolação. E quando restava pequena e tremula chama, peguei minha lamparina, a guarneci de azeite em abundância, e brandamente transferi o Fogo ao pavio.
E não mais houve ameaças. Verdejou e cresceu a minha vinha. O povo prosperou e gozou dos seus frutos e o fogo dominado cozeu esses frutos.

0

MINHA VIDINHA I

o
o
Bravo! Por um viela
Lá vinha Vidinha se esvaindo
Bravo! e Vidinha se arrastando
Bravíssimo! Vidinha já desvairando...
Ali parou, se recompôs
Colocou seu melhor sorriso
Um tapinha na face,
Saúde,
Pose elegante, virtude
Então
Cumprimentou seus amigos
Como se nada,
absolutamente nada
Houvesse acontecido.
o
o

PLANO DIÁRIO

O
O
Quando deita a madrugada e o primeiro sol do planalto bate à janela, traz consigo a chamada da alvorada a mais uma lida diária sob o céu de Brasília. Nós aqui das satélites, a caminho do Plano Piloto: meteoros de concreto, decretos e asfalto, conchavos, acessos e vias, estrutural, eixo monumental, congresso, esplanada e rodoviária.
Entre engarrafamentos e buzinas, baixa umidade, pardais, flanelinhas: a beleza singela dos canteiros. Com suas flores do cerrado, forrando balões, tesourinhas, entre-quadras. Harmonia de cores, aromas e formas a desejar-nos bom dia... em mais uma longa jornada.

O
O

BECO

o
o

Tenho que escrever

às pressas

Pois é assim que sobrevive
minha poesia

de sobras e de brechas
0
0

PRESSÕES

o
o
Tenho minhas depressões
ooooo em segredo
Diluo frustrações
Amorteço pressões
ooooo e vivo
Venço diariamente
As agressões do meio
ooooo e da mente
Sem devaneios
Duelo com a realidade
Embargo sentenças
E sigo
ooooo esperança.
o
o

COTIDI-AMO

O
O

Cotidianamente, corre-corre, pique-pega. Manhã escola, tarde tarefas, balé, natação. Noite saudades, beijos, abraços, dever de casa e cansaço. Pra dormir: histórias pra sonhar , oração e bençãos. Depois, sono profundo, de quem é hoje da minha vida o fruto e a semente do futuro.
O
O

SEU TOM

O
O
O meu amor veio tarde
Trouxe questões entre abertas
Trouxe bagagem de ansiedades
Música nas veias,
E uma guitarra vermelha

Trouxe o tom do que viria
Dúvidas abissais
Ventanias
ooooooooo Juventude
Renúncias verdadeiras


Arrancou-me o escudo
Plantou-me uma certeza

Objetivos
Adjetivos
ooooooo Uma aliança
Porto amigo,
E um lugar incomum
Antes dois
Agora um


O
O

SOBERANA MENTE

O

Enquanto se faz o circo e as barrigas roncam vazias, a zombaria corre solta. A sobrevivência em luta severa, deixa em profunda espera a luz tardia da libertação. Quando a razão ganhar voz e isso há de ser breve, e se erguer a nação à angústia do excluído e o clamor do aflito, será nossa bandeira o cessar de conflitos. Então bradará uma geração: - Chega de circo e pão! Eu quero minha nação em busca de muito mais, um povo que se agiganta em consciente soberania. Exposta a intolerante tirania escrever de próprio punho um novo rumo pra sua história e fazer valer com sucesso cicatrizado em memória: -“ Ordem e Progresso."

O

O

DOR

o
o
O que percebo
O que sinto
Minto omito invento
Faço que sim
Isento-me.
o
o

DIA A DIA

o
o
Por um chuveiro
Urbano
Desce cristalina
Água
Limpa a derme
Extrai o verme
E escorre
Preciosa e suja
Pelo ralo
o
o

LINHAS

o

o

Escrevo não porque sou
ou tenha
Mas porque me falta

o

e sinto
0

0

SAUDADE

o
o

Como esquecer
Se é presente a ausência
E o silêncio grita
oOoo Existência
.

o
o

BELO AMOR

O
O

Penso assim do amor... que ele seja eterno e permaneça sempre terno. Que seja belo e atenda da alma os anelos. Deve ser cuidado e ser tocado, acariciado e mimado, como criança de colo. E sem reservas ser apaixonado, declarado e notório, sendo tranqüilo e suave como na tela a paisagem. Que seja bem nutrido para florescer e ainda que leve tempo, seja renovado, seiva e semente, para que se faça belo hoje e para sempre.
O
O

MONÓLOGO COM ESPELHO ( hahah!! Não é pra levar a sério não, tá)

o
o
o
Oh! Espelho cruel! São a mim tuas respostas mais amargas que o fel. De tua presença inspetora nem ao menos um alento, nem sequer uma ventura, pois gritas a todos os cômodos meus centímetros de gordura. Se das adiposidades, algum peso me subtrai, nem assim tu me animas. Com teu ar tão desdenhoso: - eras gorda, agora sois flácida, tal qual um criado insolente, indiferente à minha desgraça.
Em postura cínica e estática, mais me infliges sofrimento, pois causas em mim toda fúria dadas tuas sentenças tão duras. Eu hora triste, hora cansada, entrego-me a derrota indumetária, visto uma leg permissiva a gordas, flácidas, baixas, cumpridas. A desenhar-me as celulites por panturrilhas, coxas e bunda, ignorando tão vil humanidade, indiferente aos teus cruéis palpites.
Mas se a sensatez me visita, vejo você tão inerte, então lembro-me que és apenas uma peça sem vida, lembrança ou memória. És apenas um acusador deselegante a qualquer hora.
Uma peça vil, disposta a refletir a quem quer que se aproxime, pois não tens vida própria. És apenas refletor de vitrines. Sim, neste cômico drama, sou eu quem te apavora, pois tenho vida pulsante, sou eu, quem escrevo minha história.


TRÊS

Agora são três.
São três os meus amores,
Três caminhos,
Três mundos,
São três cores.

Daniel, Camille, Louise
E quando adentro a porta
É só o que me importa

Desafio presente
Projetos futuros
Sujeira no chão
Rabiscos no muro

Band-aid, pomada, carinho,
Colo e computador.
São três lições,
Três refeições,
Mastigando de “vagarinho”.

(simone gois)

NACIONALISMO DE GAVETA

Meu nacionalismo é de gaveta.
Mas sai pras temporadas.
Ele pula carnaval
Vai à copa do mundo
E vota em urna eletrônica
Em apenas 30 segundos

Meu nacionalismo
Só não tem tempo
Para se engajar na causa da escola
Ignora a arma engatilhada
Das salas vazias
E as mazelas e martírios daqueles
Que por oito ou até doze horas/dia
Ensinam aos nossos jovens
O sentido da cidadania

Meu nacionalismo é político
No mais baixo sentido
Sem causa ou ideologia
Político institucional
E como tal,
Disputa via manchetes de jornal
O ensino diário da sociedade
De tal forma
Ao que a escola forma
Tal instituição deforma

Meu nacionalismo de carnaval
Não denuncia o caos do hospital
Aqueles da rede pública
Rede de interesses
Infestada de descaso
De vias burocráticas
E corredores lotados

O meu nacionalismo
É ardente
Nos campeonatos locais,
Regionais, internacionais
E aos ais dos hospitais
Morte súbita nas filas,
E até o final da partida
São mais noventa minutos,
E mais centenas de vidas
Mais noventa, mais noventa...

Meu nacionalismo é burguês
Pinta a cara e desfila nas ruas
Participa de passeatas
Faz donativos
Inscreve-se em ONG´s
E volta pra casa
Com a sensação do dever cumprido

Meu nacionalismo é manso
Pois tem também o rabo preso
Tem dois pesos na balança
Pois o tio do tio do irmão
Da minha madrinha
Também tem cargo de confiança

Meu nacionalismo é covarde,
Não tem compromisso, é omisso
Não é militante, se cala
Não discute, consente
Aceita migalhas pré-estabelecidas
Não determina,
Não se indigna

Por isto em nota, procuro respostas
Para perguntas de base e fundamento

Como amar a pátria?
Cadê nossa identidade?
Onde estão nossos símbolos?
Como asceder coesão e desenvolvimento?
Quem são nossos representantes eleitos?
Quem acompanhou seus feitos?
Quem cobrou seu direito?

Disto posto,
Ainda a questão
Como torna-se nação?
Para deixar de ser povo
Cada um por si
Deus por todos
E fazer meu nacionalismo ser capaz
De defender os direitos primários
De investir no operário
De dar voz aos oprimidos
De batalhar suas causas
E arrancá-los do conformismo
Semeando a esperança
Promover a cidadania
Para colher uma sociedade
Mais justa, plena e sadia
Com a semeadura do entendimento
Na plantação do desenvovimento
No resguardo da soberania

(simone gois)

INVERSO VALOR

Seria o justo o tolo
E o crápula honesto ?
Projetos e esforços
Menor que a lei da aposta?

Seria tristeza cooperar
E à vida do próximo dar o aval?
O humilde é Zé
Incapaz capacho do Lau.

Seria feio trabalhar honestamente?
E vergonhoso ser idealista?
Causa estranheza o altruísmo?
Soa piegas tratar com a verdade?
E ter uma vida de dignidade
E dignificar assim o seu povo?

Tem coisa cheirando mal.
Os maus tomaram o poder.
Nós elegemos monstros
Pra conduzir e resolver.

Quem tem poder?
Poder pra quê?
Poder só pra corromper.

Corromperam a razão
Venderem a moral
Zombaram da verdade
Em bizarra letargia social

Viva a vida momentânea
Do êxtase do dinheiro fácil!
Do sangue sem valor
Que escorre do morro
Em gritos de horror.

E dos palácios construídos
Com mármores e vidros
Em conchavos vergonhosos
De políticos inescrupulosos
Que buscam poder...
Pelo preço que for

O justo se entristece
E o homem de bem range os dentes
Ao pranto do necessitado
E a fome das crianças magras
O terror do pai de família
Na mão de homens dementes

Filhos sois, políticos devassos
Do desterro e da maldição
Aves de rapina e carniça
A rir-se do sofrimento alheio

Hão de arder no inferno
Pelas vidas ceifadas
Em suas investidas imundas
Com estratégias desumanas
A atirar sem pudor e nem vergonha
O seu pais em cova profunda

Desse mar de infame e lama
Se ouvirá clamor e drama
Restarão vidas mutiladas
Aleijões de caráter e comportamento
Com sede de morte por sustento
Como fantasmas errantes
Com seus olhos flamejantes
Buscando também se impor
Batendo tão forte e covarde
Como a agressão que também sente

Qual será a paz de espírito
No dia em que os justos
Homens limpos de mãos e de mente
Tomando o poder com legitimidade
Lançar atrás das grades
A todo aviltante abutre
Para ter a paga devida
Pela destruição da vida
Por distorcer na mente em formação
Dos nossos jovens e crianças
O sentido da verdade e da justiça

E será pra nossa mente sossego
Saber haver lei sem engano
Para o bandido mais hediondo
Aquele que tendo a oportunidade
Negou agir com a verdade
E atender ao anelo dos povos
Por paz, justiça e igualdade

E em cárcere comum
Terão por companheiro de sela
O fantasma da consciência
(ainda que se duvide de sua existência)
A assombrar-lhe de noite e de dia
E ser-lhe-a por juizo severo
Em flagelo e tormento eterno

Pelo bem que não se fez
Pelo pão que se negou
Do pranto que não calou
Do direito que usurpou
E das vidas que violou.

NUVÉNS

O
O

Encontro-me quando alcanço as minhas verdades. Ainda que meia amarelas, não tão exatas, mas sinceras. Meus defeitos não são tão ruins, minhas virtudes tem fim. Vou me denunciar. Vou renovar meu vocabulário, vou tirar as roupas velhas do armário, vou completar meu álbum antigo, não vou mais me sabotar.
Volto ao meu encontro, antes bailarina, depois medicina. Hoje simplesmente eu. E desde sempre sonhos. E para sempre vejo, menina deitada no chão, vendo as nuvens passar.
O
O

RAJADAS

O
O

Rajadas de metralhadoras, rajadas de mentiras, guerrilha e sangue, senado, câmara e quadrilhas. Morre no morro aquele garoto tão tenro, morre sem chances no país do futuro. Um tiro na cabeça em horário estudantil. Na escola caindo os pedaços em estado sub-humano, transformada em barricada do cangaço urbano. Finda a luta do menino, morador da favela com sobrevivência extraída sob chuva e sol em dura lida de farol em farol. Mais um brasileiro executado entre bandidos e soldados, sem rosto, sem voz, sem vida... Quem disparou a arma? Quem fechou os seus olhos? Quem chorou no seu velório? Os burgueses fingem não ver, os políticos fazem discursos e a vida vai levando o mesmo curso e o descaso cobrando seu alto custo.
O
O

VILAREJO

o
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Minha alma é uma cidade velha, habitada por minhas escolhas. Nesta cidade, tenho ruas belas, jardinadas. Colho sempre flores perfumadas e algumas vezes raras. Mas não está de todo saneada. Há ruas escuras, esburacadas. Me esquivo o máximo destes limites, mas nem sempre é possível.
É necessário passar por ali, ver os danos da enxurrada, a erosão da terra arrasada. Arrancar com mão e pá todo o entulho acumulado. Às vezes sozinha consigo pequenos bons progressos, mas na maioria das vezes é preciso auxílio. O trabalho é árduo, imprescindível. Administrar a cidade da alma é um desafio. Mas sei que caminho rumo ao progresso. Um dia, me torno uma cidade fortificada, devidamente ordenada, sem brechas, escombros ou pinchações nas faixadas.
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PONTE


Dentro em mim
.....Há dois mundos
..........entre eles: um Abismo
......... A razão que a tudo controla
...............E o mundo emocional que discorda
.......................

...............................Há guerras
...................................Estopins estratégias
..........................................Só não há paz
.....................................................Pois a Razão interroga
...........................................................Todo impulso - espontâneo
....................................................................Pondera, mede os pros
...........................................................................e os contras
..................................................................................E só depois comanda
.............................................................................................Conforme sua análise métrica
..........................................................................................................E o mundo Sentimento
....................................................................................................................Acuado
............................................................................................................................Devolve
.......................................................................................................................................Irracionalmente
....................................................................................................................................................Tensão
..........................................................................................................................................................Depressão
.............................................................................................................................................Faz-se o Abismo

....................................................................................................................................E a poderosa Razão
............................................................................................................................vagueia
............................................................................................................Sem as rédeas da vontade,
..................................................................................................E o ciclo se renova
........................................................................................Pois o Sentimento andarilho
.............................................................................Também se recente a deriva
...........................................................Sem a guia da realidade.

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IMERSÃO

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Debruçada sobre tuas ânsias, minha mente segue as instâncias dos teus processos, protestos e diagnósticos do teu eu reverso. Espero e velo que ao mergulhar nas profundezas da tua alma aflita, meu eu desvie dos teus termos, dos teus males - mal resolvidos amores e arranque das tuas entranhas o teu ermo sulfuroso e estanque o mal das tuas dores - incontidos dissabores. Assim contenha a tristeza que pare diariamente a tua morte precoce, o teu aborto emocional . Para que a lucidez que lhe resta, te seja por sementeira para a longa jornada nesta terra derradeira onde tuas angústias em negras nuvens, arrastadas em rajadas ventanias, como a luz da aurora desfaça as trevas da tua existência. E em tua amarga história que confunde a melodia das tuas rimas frias e da tua voz balbuciante reflita em tua longa trajetória e introspecto derrame teus lamentos em infame lama dando fim a tuas queixas. Para que enfim te ponhas resoluto, retira a dor dos teus olhos pleiteia outras causas, para se moldar e forjar favorável entre dores e lágrimas tua nobre alma, branda e inabalável.

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ESTILO DESCARTÁVEL

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No trânsito do carro e do passo, no corredor da vida individual, há gemidos de dor e de fome , há clamor por um valor igual. Enquanto Versace versa a moda, a miséria incomoda o estilo dos descartáveis. As oportunidades são brechas em um muro blindado, a chance é um risco, o mundo é um circulo fechado. Igualdade é tese sempre na moda, vestida em várias bandeiras, discurso farto de uma prática vazia, inversão de valores, infestação de preconceitos em civilizada hipocrisia.

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SENTIMENTO

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Sou eu assim, rio de sentimentos sem fim. Cor e emoção dos meus poros minam. Sou talvez apenas, um frágil lamento da emoção que se contém . Pois para sentimentos não se tem tempo ou se há, não é tocado, por ser um terreno minado. As coisas da alma, nem sempre são as coisas da fala quando disfarça vazia a imensa solidão. Mas se sentir é tormento e um tormento solitário, sentirei em mim a alegria de falar dessa enxurrada que muitas vezes escoa na vala da incompreensão. Mas se todos também sentem qual seria a explicação? Que diante da máquina fria ou da urgência do dia, o coração se esvazia e perde a sua vez? Porém, eu sonho ainda com ternos momentos sentada ao meu fio, passar horas a fio a falar de sentimento. E quando não restar mais nada a dizer, encostar de vagarinho no teu cúmplice ombro com a alma saciada e ver o dia amanhecer.
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CUIDADOS

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Quando perto, é um porto longe... partes minha alma, despedaças meu coração. Quando longe, são longos demais os dias e as noites, aperta a solidão. Sim, eu sei. Não é desamor. É o tempo, é posse... é esse costume qual bom perfume, que por mais caro e por mais raro, vicia os sentidos e não se percebe mais. Cuida das nossas coisas. Cuida do nosso amor. Ainda que em aliança sincera, recente-se da espera e pede tempo e mais calor.
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INDIFERENÇA

É difícil dizer o ser diferente
No indiferente de cada um
Que ao buscar a diferença
Caem sempre no comum.

É comum não ser igual
É normal não ser comum
E a nada se compara
Absurda existência
Cada mundo, tem seu motivo
Cada vida, um desatino

Fútil, em vazia busca
Individual, inultimente,
Exclusivo e obscuro
Segue sempre,
Omisso, cego e indiferente.

(simone gois)

ENGODO

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Caídas as máscaras do falso riso do folhetim da manipulação, teremos mais tempo a refletir e inquirir aos inimigos da nação. Os que não vieram à servir, os que enganam e fazem rir a quem também optou por mentir a si mesmo e para seu irmão. E se negam a enxergar a realidade posta à mesa: Subdesenvolvimento, Violência e Pobreza. Sentença há muito imposta por manipuladores da lei, cruéis, vorazes sem resposta. Parasitas intratáveis, traidores covardes, consumidores do suor operário. Maestros desafinados da subvida, subdesenvolvimento. Sem pátria, sem nome, ou moralidade. Mas há de chegar o dia, que em suas condutas indecentes, há de ser banido para sempre o opressor do aflito, o corruptor de inocentes. Com suas imundícies expostas a escorrer como fossas a qual causa repugnância a quem quer que verifique a decomposição da decência: mal cheiro, podridão e detrito.
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TERAPIA SEBASTINIANA

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O mal do século é a depressão. E quem não sabe disso, nestes nossos dias de pressões. Chega a ser tão grave, que o assunto é bastante abordado nos meios de comunicação. Aqueles que sofrem deste mal e possuem condições financeiras, lotam os consultórios de analistas, psicólogos e até psiquiatras em busca de auxílio. É um caminho a seguir. E quem não pode? Hoje que sou adulta, que já amarguei como um bom ser humano contemporâneo, minhas cotas de tristeza, sei que depressão é uma vala na alma, um abismo de dor infindável, um vazio. Vazio que de tão vasto, se preenche. Enche de amargura, de uma sensação de nada, que violenta qualquer existência. Nunca fui à analista, embora já tenha até pensado nisso. Às vezes me imaginava sentada em um consultório, falando de mim para um profissional. A idéia nunca me soou agradável, pelo contrário, fria e desconfortável e até desconcertante. Então eu mesma me explicava, que não é bem assim, com a ciência avançada, temos um especialista para cada assunto. Especialista para questões físicas, químicas, da psiquê, da alma, das causas. Enfim, fiquei neste dilema, que passou a ser mais uma das questões não resolvidas em minha vida. Mas o interessante, é que pensando nestas questões, lembrei-me da minha mãe. Uma mulher muito simples, uma mulher alegre. Alegre mesmo. Onde ela estava, era sempre a alma da festa. E isso não é porque não tivesse problemas. Tinha-os. E eram muitos. Problemas financeiros, problemas com a saúde, problemas familiares, que não vem ao caso citar, mas eram bem sérios. Se fosse eu que os enfrentasse hoje, não suportaria. Então, por que minha mãe sempre conseguia esbanjar, alegria, energia e sorrir com tanta liberalidade como ela fazia? Lembrei-me então que minha mãe não guardava mágoa na geladeira para saborear mais tarde, não aprisionava os desgostos na mente para virar tumor, não maquiava aparências para as vizinhas não saberem de suas turbulências e sofrimentos. Antes de tudo, havia uma franqueza em seus gestos e palavras que me impressionava. Diante de nós, seus filhos, e de suas amizades, falava abertamente de suas dores, decepções, erros, acertos, martírios, desgostos, injustiças e sonhos. E narrava de tal forma, que prendia os expectadores a ponto de arrancar de alguns lágrimas, de outros aplausos. Mostrava-se humana. Por mais que falasse de uma falha sua, de uma vacilo feio, não se podia olhar pra ela como uma pecadora, era tão sincera e nobre em suas sentenças, que dos seus abismos ressurgia gloriosa. Creio que sua maior glória, foi o perdão, ela sabia perdoar e recomeçar, sempre. Mas o fato é que assisti, por vários anos, minha mãe usar e abusar da terapia da pobreza, não represar as tristezas, mas falar aberta e francamente, e ser capaz de rir até quando o riso não cabia. Colocava pra fora todo lixo que a vida lhe empurrava, se limpava, se desintoxicava, e podia dormir sem antidepressivos. Sua auto exposição para muitos hoje seria considerada vulgar e inútil, mas eu que acompanhei parte de sua trajetória, sei que ela exercia um método que hoje muitos pagam caro nos consultórios de luxo. Embora boa parte de seus problemas nunca tenham sido resolvidos, ela não perdeu a alegria de viver, não contaminou outras fontes da sua alma, e ainda pôde plantar e colher esperança.




(simone gois)