BOM DIA

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Sentada à mesa da refeição matinal, grata, retiro com delicadeza e destreza as sementes pequeninas, negras, resguardadas na liquidez embrionária madura, para não lhe ferir a nobre polpa, para que nada se perca do sabor e maciez do meu mamão papaia.
Alaranjada fruta no tom saúde, saúda o meu dia, folha em branco disponível. Na verdade conto com ela com muita fibra, espero que anti oxide naturalmente minha história e ajude na faxina das sobras. Em seu teor adocicado, apetência e suculência me convidam. Vou o extraindo. Acrescentando-me. Absorta o absorvo, em colheradas sobremesa.
Iguaria acessível da multiforme natureza, que com generosidade me serve e sacia na minha manhã vazia, o paladar da boca prateada, salivada e presenteada com uma porção de bênção em forma de flor e fruta. Por um momento, apenas o saboreio... enterneço e esqueço, da vida com sua lida bruta e novamente agradeço pelo dia, pela vida, pela alegria, pelo alimento e principalmente, pelo meu mamão papaia saboroso, já sem caroços.
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RELÍQUIAS

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Colhi alguns raios de sol e coloquei na caixa adornada das minhas coisas especiais. Pra quando o dia ficar nublado e trouxer aquele medo úmido, um cheiro de armário, eu te presentear com essa porção do sol que guardei, só pra ver teu rosto iluminado e aquecer teu coração com carinho. Aí vou te mostrar...na minha caixa tem também aquele sorriso largo que me entregou quando te conheci, aquele verso de improviso, o agradável tom dos teus risos... Guardei as vezes em que teu ombro foi meu abrigo, o gosto dos seus cuidados, o teu zelo. Apurei o perfume dos teus ideais, o teu cheiro. Pétalas brancas com as tuas verdades aspergi. Colhi com leveza, o encantamento e a cor daquele dia inefável, em que passamos a coexistir.
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RETORNO

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Hoje um lençol cinza forrou o céu de Brasília. Já não era sem tempo. Enfrentamos à pouco os dias mais quentes dos últimos quarenta e oito anos. Sem praia faltou ar condicionado pra refrescar o cerrado. Até as águas foram se refrescar nas nuvens. Agora o céu tá tumultuado. Vai despejar essas águas fugitivas no Lago.
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BREVIDADE

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Vou me enveredar.na brevidade do agora, vou transitar eternidades que habitam os gestos mais simples. Experiência fugaz é a existência, urge amor sem conta-gotas. Um ouvido atento.é torneira jorrando que o árido coração sorve ávido, brota a alma e dilata poros em flor.
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COMPOSTO

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Porções de mim
Mármore
Marfim

Outras
Apelo
Calma contemplativa
Dinamitar de espelhos

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