RIQUEZA

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A maternidade é um grande baú de tesouros inesgotáveis. A cada dia uma jóia capaz de encher a vida de significados é encontrada. A existência toca a plenitude e vai se tornando cada vez mais rica.
Meu filho me ama de forma tão espontânea e me cobre do ouro do seu amor. Todos os dias são mil declarações, estando eu magra, gorda, penteada, descabelada, divertida ou uma chata de galochas. Enfim, me ama e isso significa muito e tanto que me ensina, me aperfeiçoa e transbordo sem uma palavra possível, mas por hora usarei gratidão. Sou grata.
Mas amar é cuidar. Tenho que ficar atenta, pois ele sabe também ser peralta! E não posso lhe negar a disciplina só porque conhece tão bem os caminhos do meu coração.
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PERDOÁVEL

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Estou ofendida. Como é que ainda consigo me ofender tanto com a falsidade possível do ser humano? A falsidade é uma ofensa. A natureza humana é um tanto complexa e permite muitos rodeios e impressões até a plena verdade. Mesmo que a verdade seja a mais pura constatação do estado de ser duas caras. Sentindo desde modo, acabo procurando em mim essa condição humana que me fez chorar, talvez por puro orgulho que alguém tenha feito chacota de mim, é que me senti traída.  
Mas creia-me, o que ofende mesmo não é o escarnio, é quem o faz.

SOBRE A FELICIDADE

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Tem gente que não sabe ser feliz. E o mais triste nisso, é que nunca serão. Porque a felicidade ou é um dom ou um aprendizado em que se gradua com muito esforço ano a ano, a cada situação vencida ou não. Sim, porque nem sempre vencemos e isso é um fato, mas ser feliz pode ser uma escolha. Eu respeito a sua.
O que me dói é ver que há pessoas que nem sequer sabem reconhecer a felicidade em suas tantas formas e vão se perdendo insensíveis e ingratas. 
Então, não percebem quando ela sorrindo passa correndo, pulando e ainda acena. Quando emburrada não quer sair da cama e faz cena, faz drama e vai "dramando" até a porta da escola. 
A felicidade tem um sobrenome que as pessoas detestam e então ignoram. Mas é verdade, a felicidade vai à escola e dá muitos anos de trabalho. Faz-me algumas exigências pelas quais trabalho mais ainda. E volta ao trabalho e bate ponto, cumpre suas tarefas e leva pra casa os seus resultados.
Ela precisa de acordos e uma manutenção cautelosa. Por vezes se mostra frágil e se abala com a dureza da fala, com a indiferença dos atos.
A felicidade as vezes passa do ponto e vem com gosto de queimado, as vezes é um remédio amargo e muitas vezes requer sacrifícios e muito cuidado. Tem felicidade que brota e por vezes não é apreciada quando cresce cuidada na varanda, ou tão sozinha e nativa desbrava a terra e floresce.
O sol entrando, o cachorro latindo o que por um momento me interrompe... um brinquedo esquecido no meio da sala, a prova com data marcada, não é também felicidade? A felicidade é meio doída.
A felicidade põe a mesa, tem despesa, faz as contas de cabeça para não estourar o orçamento, faz a cama, faz planos.
Ela vem ao meu encontro quando chego em casa, me abraça, me beija a face e sempre diz: Oi. Ela tosse a noite e traz preocupações. E sem que eu espere abre um sorriso espontâneo e me faz uma declaração de amor. Se encaixa no meu colo de mansinho e exige carinho.
A felicidade é essa garatuja colada no meu guarda-roupa e a outra riscada na parede da sala, o que deveria me deixar brava, mas eu só sei admirar. A felicidade é meio boba.
Não saber ser feliz deve doer carne e alma, mas tem coisa mais dolorida. Há os que não sabem o valor da paz. Por isso não evitam a discórdia, não se afastam do mal e se deixam contaminar. Será que não conhecem o peso da palavra leveza? O esforço para chegar a  harmonia e a luta por trás do sossego?
Quem não sabe ser feliz, que tente pelo menos, exercite. É preciso algum tempo e pode-se aprender observando as coisas mais simples, entendendo o lírio do campo, a correnteza do rio, doando uma porção do seu tempo, arrancando com a própria mão a angústia de alguém próximo ou não. Na verdade tem gente, e é com muita tristeza que digo isso, jamais serão felizes mesmo, porque ignoram que ser feliz é saber fazer feliz o outro.
E há coisa mais grave e severa ainda, é quando a indiferença e o egoísmo são tanto, que existem pessoas que passam as horas, dias, meses, anos, uma vida inteira por conta do próprio umbigo e pra essas pessoas nada do que eu disse, nada, faz o menor sentido.
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UM DIA DE FÚRIA (já passou kkkk)

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Creio, e é convictamente mesmo, que os homens são de uma espécie bem distinta das mulheres. São de uma natureza atoleimada, talvez ainda em evolução: o homo-imbecilis  cujo seu maior objetivo no mundo é o caos.
Haja luz, soam as palavras Divinas e eles correm. Alguns se escondem como demônios expostos a santidade e clamam para que não sejam atormentados antes do tempo. Porque não acreditam na eternidade do felizes pra sempre. Porque com a própria as mãos destroem a harmonia e vão construindo ciladas ao longo do caminho, onde eles próprios serão também atormentados.
Bestas feras, não sabem que é com amor e paciência e muita abnegação que se formam as novas gerações? Não sabem que amar é atitude e não palavras? Desconhecem que a palavra trouxe a existência a criação?
E vivem uma vida medíocre em algum cômodo subterrâneo de insanidade e bobeiras. Seres hediondos, bestializados e demonizados em suas trevas noturnas.
E nem direi mais. É que hoje eu não sou paz, eu sou guerra. Eu sou a própria guerra perdida pedindo paz. Eu sou a bandeira branca e trêmula que loucamente acredita e varre os escombros e refaz recomeços.
Minha paz dura a era de uma semana e tem que bastar para os séculos de peleja. Aí eu já era inteira. E hoje em partes busco ser completa.
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Hoje eu quero a leveza da pluma. Desejo o rosto todo calmo iluminado e o olhar franco e seguro. Desejo em harmonia os sentidos e o coração sincero e puro. Quero um passo parindo o outro, indo de encontro ao futuro.
Que os gestos sejam suaves e inspirem confiança. Quero em tom perfeito a fala, a palavra que acalma e desperta. Quero o dom de quem se cala e ouve. 
Eu quero a memória das coisas de infância com cheiro de terra molhada da chuva que derrama esperança. E que os frutos do que se espera sejam generosos.
Tem dias que é preciso toda brandura que caiba no peito, toda largura de alma e a fé permeando tudo. Não que nos outros dias não se queira, não se peça, não se busque. É que tem dias que é preciso muito mais, é preciso intimidade com a paz.
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Coberta de sono e sonhos a menina deita em sua cama voadora. Aconchega-se em seu travesseiro de fronha amarela, fecha os olhos e ansiosa espera. Mais um tempo e já dorme, outro tempo e decola. Que frio na barriga! Mas é que sempre vale o susto pra viajar de pijama a bordo da sua cama e orbitar a terra.
E sobe, sobe alto além das nuvens, troposfera, estratosfera, termosfera, exosfera e... Uau! Enfim o espaço sideral. Ela já alcança as estrelas, flutua dona da lua e acena solidária para o astronauta solitário. 
Do alto observa a terra e vê a tristeza dos homens, que a sua irmã mais velha chama de mazelas. Por isso na idade dos sonhos, a menina sonha alto, profundo e verdadeiro. Salva o mundo, combate pesadelos e inventa vacinas para todo tipo de angústia. 
Em sua nave segura, dá asas a imensa busca que a habita e faz grande suas conquistas. Ela, a menina que nem tem consciência da palavra altruísta. 
E quando o cansaço maior lhe alcança, dá corda em sua caixa de música e acorda iluminada de esperança.
É por isso que quando é dia e as tristezas do mundo se mostram mais sérias, ela insiste em sua verdade, que há sempre uma saída.  Há sim, solução a ser construída no mundo da boa vontade. 
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Hoje eu preguei pra mim mesma e levantei a mão e me converti. 
Emaranhada em questionamentos e pressões, eu quis a minha redenção. Mas senti vergonha por querer o socorro só pra mim. Então, eu quis redimir  o mundo das suas dores, eu quis a sua salvação. Eu quis salvar o mundo. 
Eu quis salvar da fome dando comida, quis salvar da ignorância oferecendo educação, eu quis salvar das doenças ofertando cura, quis salvar da maldade, eu quis salvar da malicia, quis salvar da avareza, eu quis salvar da esperteza, quis salvar da violência, quis salvar da amargura, eu quis salvar da falta, quis salvar dos excessos, eu quis salvar...  
E busquei ideias, ideais, pensamentos. Eu fui aos quatro cantos da terra, eu quis a sabedoria dos grandes, quis a filosofia dos mestres, eu busquei nos mistérios do mundo, rastejei buscando um elo, uma luz, perambulei por eras.
Me vi perplexa. Vi que havia sim, soluções para grande parte dos problemas, mas nenhuma salvadora, libertadora, perpétua. Aí eu compreendi, eu calei. Eu me rendi.
Eu não posso salvar o mundo, eu sequer suporto essa carga do desejo que sinto da sua redenção. Eu sequer salvo a mim mesma! É isso. Se eu salvar o homem de todas as suas mazelas, ainda terei que salva-lo de si próprio. Meu Deus, eu que nem salvo a mim mesma.
Aí me converti e chorei e sorri. Meu DEUS, eu preciso da solução que Tu és. Amém. 
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Quando me ocorreu esse pensamento, não me reconheci. Mas era eu já sem desespero, já sem medo, quase dona de mim. Desde cedo  tive e me dei uma liberdade  regrada, algo entre o querer e o discernimento, entre o desbravamento e o medo.  Mas vejo que foi bom e poupou-me de algumas dores. Talvez foi mesmo instinto de sobrevivência.
Hoje vou além da segurança do costume, piso terreno desconhecido, o novo que também intimida, mas que já consigo encarar olhando bem nos olhos e  muitas vezes até prevalecer.
É aí que experimento um sentimento  necessário. Uma compreensão de tempo e espaço. O meu tempo, o meu espaço, a minha experiência e um risco quase calculado. É que viver não tem fórmula, não há equação possível. E vou aprendendo a viver e isso é uma benção.
Agora vejo uma nova geografia, uma exploração responsável, onde aos poucos se alargam os limites e prossigo. Não dá pra dizer o quanto isso me trás de um sentimento de gratidão. E senti-lo representa muito, muito mais do eu diria, mas é agradável e sou novamente grata.
Todos os dias fazemos escolhas e entendo que algumas decisões requerem tempo. É preciso ver, rever, engavetar, redescobrir, compreender. 
Revendo hoje, estou em paz. Sei que segui o melhor caminho.
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Por supor saber a resposta, evitei perguntas essências. Perguntar ofende? As vezes, talvez, não sei. Mas eu não receio a ofensa e nem de me expor ao ridículo. Eu tenho é um medo, um medo espiritual. Meu Deus! É isso que me freia? Que feio ter medo de Deus!
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Foi feito um passarinho ferido que me vi essa semana. Dei um jeito no braço e fiquei sem jeito pra mais nada nessa vida. Meu Deus que dor! Eu vi estrelinhas, eu queria colo, eu queria chorar, eu queria mesmo era gritar.
Mas quando você é valente, metida a forte, ninguém leva muito a sério mesmo. Fiquei quieta. Muita gente pensou que eu estava brava. Brava nada, tava mansa, amansada pela dor.
Mas até que meu esposo me deu crédito e me levou duas vezes pra tomar injeção. Eu tomando injeção! Eu que só de olhar pra uma seringa tenho taquicardia, se aceitei, foi porque o desespero era o meu guia.
Sentir dor às vezes é bom pra gratidão, sabia? Eu garanto. Você só pensa que quando tudo tiver passado, será mais grato pelo tremendo estado do não sentir dor. Aos poucos estou me sentido melhor.

Obrigada Senhor, porque aos poucos estou me sentindo melhor, bem melhor. Amém.

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