AMADO

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O coro harmonioso dos teus passos
anuncia tua magnífica aparição
um espetáculo cotidiano desejado

Como um sol adentras
a aquecer a casa úmida
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então me ergues

Pois curvada de ausência te esperava
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AMIZADE

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Hoje vi umas flores murchas penduradas na sacada de um prédio. Pareceu-me um suicídio em andamento. Corri pra acudir. Mas elas não pularam. Fiquei aliviada. Fiquei intrigada... pois elas ficaram ali, suspensas.... com um olhar tão seco, que o choro era pra dentro. Eu sofri por elas, sem saber o motivo. Enquanto eu gritava silêncios por socorro, vi algo cortante. Em quase todas as sacadas haviam essas plantinhas dependuradas, caladas. Só aí me dei conta. Me vi uma delas. Essas flores desidratadas, abandonadas, são nossas amizades murchando. Amizade é assim, como a muito se diz. Uma plantinha que nós somos e que cultivamos. É preciso apesar da correria do dia a dia, apreciar e cuidar com alegria.
Esse Corre-Corre é apenas um jardineiro preguiçoso que fica desaconselhando o dia inteiro:
- Substitua essas flores de canteiro, pelas de plástico, é muito mais prático!
Ah! Jardineiro insensível! Não quer ter o trabalho do zelo. Não quer adubar com palavras carinho, afagar tirando os matinhos, regar com ouvidos atentos e se necessário apoiar com a varetinha do ombro amigo na hora da ventania.
Ah correria árida preguiçosa! Deixa vai! Deixa eu cuidar da minha plantinha! E não reclame se as flores de plástico não lhe abraçam com perfumes.
E você... vai lá, vai. As plantinhas da sacada, ali penduradas podem ser sua amizades secando... secando...
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TEMPO

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O tempo é esse menininho sapeca desenhando garatuja na parede do meu rosto.

- Ah! menino, peraí! que eu vou chamar o seu Pitangui.
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CAMINHOS

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........Quem ama recria
Encontra na alma vias
...........Caminhos leves
..........Esquinas vazias
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.......................e segue
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ENTRELINHAS II

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é o meu melhor amigo. Sabe... ele tem nesse jeito de furacão, muitas brisas acumuladas. E na sua voz de trovão, as saudades do sereno retornando a terra. Sentiu aquele cheiro bom? É o seu hálito de primavera. Ah! e quando ele me disse não, foi pra eu me lembrar que amar é cuidar... e cuidar é coisa muito séria.
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ESSÊNCIA

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No espelho embaçado de paixão
Tudo era pleno e perfeito
quando o calor mais intenso abrandou
escorreu líquida a urgência
restou todo nitidez o amor
refletindo maior essência
ainda que expostos rugas e defeitos
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ENTRELINHAS

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e sempre que ele saía retornava me trazendo um sonho de panificadora. Eu reclamava, dizia que tava engordando ou que o sonho era dormido. Ele ficava triste e dizia que não sabia comprar outra coisa. Até que entendi... sonho não engorda. São os sonhos que nos nutrem. E tinha mesmo que ser dormido... que falha a minha, pois foi ao amanhecer que compartilhamos os nossos melhores planos. Entendi principalmente, que aquele gesto quotidiano, era só o seu jeito tímido de repetir eu te amo... eu te amo....eu te amo....0
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ALÉM

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Quando eu enxergar a ternura da pedra
e a luz da sombra que me cobre
Quando aprender a tratar terra árida
Pode ser que a palavra que me falta brote
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MIMOS

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Hoje fiz um carinho no meu calcanhar. Eu que o trato de forma tão funcional. A ele ligo chão estabilidade aspereza. Não costumo tocá-lo. O julgo um tanto quanto impuro. Contaminado. Mas hoje em um dia nublado, ouvindo suaves acordes teclados, deitei-me em posição fetal, braços entre pernas. Entrega. Minhas mãos tácteis sensíveis, percebendo a carência, tocaram meu calcanhar esquecido como um velho amigo. E ele dissipava desejos contidos de afagos e mimos. Quando dei por mim, o tocava sem preconceitos, deslizava palma e dedos em ternuras e doação. E percebi quando ele empolgado e lisonjeiro exclamou ao nobre cérebro: Eita! Como um cafuné é bom, heim companheiro!
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NOITE

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A noite com seu colo imenso
me abraça materna
a preparar-me para o amanhã
Canta-me antigos silêncios
me faz o afago de um sonho
e sempre deixa a luz dos raios de sol
acesa ao se ausentar
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EQUILÍBRIO

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Tudo que domina
Mina o centro
Desloca o eixo
E lança a esmo
“Mas não se prende o vento
entre os dedos”
dos meus abismos
me ergo
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