SOBRE MINHAS ORQUÍDEAS

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"Mamãe, eu não mecho nas suas flores.
Mãe, eu até cuido delas
Principalmente as brancas e amarelas
elas são meus amores,
Mãe, eu nasci pra amar essas duas cores"

Daniel Assafe
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Abraçar é uma forma de doação, é afundar-se em carinho, é um modo de encontrar corações. O tempo de um abraço é um dos mais eternos que conheço e de eternidade poucas coisas são feitas.
Há os que não se permitem tocar e mesmo são incapazes de tal. Mas há solução possível.
Para os muitos tímidos ou severamente bloqueados nas emoções, recomendo iniciar o tratamento como em conta-gotas em forma de pequenas batidinhas nas costas a cada encontro. Depois de verificada a aceitação do procedimento, tenta cobrir-lhe com um dos braços ao ombro e nota qualquer reação positiva, mesmo que ainda haja estranhamento.
Somente após sistemáticas repetições dos procedimentos citados é que deverás ao encontra-la dar um desses abraços demorados onde a eternidade habita e o amor toma forma.
Mas se querem um conselho de alguém bem sistemática... Pra não dizer tímida ou severamente bloqueada: faça de conta que não aconteceu nada de muito importante, chega mesmo ao ponto da banalidade, ainda que saiba que quebrou uma imensa barreira, mesmo que perceba que com este gesto fraterno tenha desencadeado no outro alguma liberdade para trilhar um caminho mais suave onde se pode demonstrar e receber carinho. E creiam-me, muitos rogam por isso.



SOBRE PESADELOS



"Mamãe, eu tive um sonho, só que não foi bom. É que eles colocaram o filme errado."


Daniel Assafe





Ando reivindicando coisas estranhas, um egoísmo manso, mas que demarca bem seu território. Nada meloso, pois que já não é da minha fase, mas algo verdadeiro e pleno de reconhecimento e desejo. Coisas de cumplicidade e do raro que é o olhar na mesma direção.

E por favor, um pingo que seja dessa coisa de pontos incomuns. Não, um pingo não, me dá uma dose bem forte, para que eu não tenha dúvida da experiência. 
É que sinto essa falta, e sinto mais falta ainda do genuíno interesse e do compartilhar que retorna transbordante.  Mas que não seja por educação, que seja puro e verdadeiro até ao ponto de encher o coração.






Tenho uma visão e gosto de lhe dar asas e deixo que se alargue e voe até que um dia retorne me trazendo um raminho de oliveira. 
Vejo que faltou-me clareza sobre alguns dos meus sonhos, aqueles mais pessoais os quais você persegue com todo o seu ser, sabe? Mas nessa visão eu recolho do mundo os sonhos que a vontade não foi capaz de sustentar ou aqueles que a vontade desencontrou com a oportunidade e também se perderam. E vou seguindo buscando compreender quanta força de vontade a vontade precisa ter para vencer.
E acontece assim:  nessa visão sou catadora de sonhos, dos sonhos deixados pelos caminhos da vida. Recolho com a urgência do risco de vida, buscando devolver aos seus sonhadores.
Mas se de fato fosse eu essa resgatadora de sonhos, ajudadora do sucesso alheio, assim realizaria também um sonho meu. É tanta pretensão, mas é só uma visão. E no interior uma vontade imensa de ser útil. Afinal somos o que fazemos, falar não basta.

Mas pode ainda haver outras explicações, é que, querer abraçar as necessidades e carências do mundo é também uma forma de revelar as minhas e revelando-as, revelo-me  e me conheço um pouco mais, e isso é sempre positivo, não?






Tenho na noite meu tempo para agradecer por toda dádiva e liberalidade. Sondo meu coração buscando discernir meus atos, entender  as intenções. É uma forma de organizar meus sentimentos, é uma forma de me acalmar por dentro.
E na prece um pedido aparece repetitivo; é que sempre rogo por sabedoria, mas a sabedoria me faz também uma exigência: experiência, aí peço também por perseverança, sem a qual um caminho não é feito por inteiro.

Escolhas erradas são um aprendizado, uma forma de crescer. E esta é uma boa perspectiva, não como quem banaliza o insucesso, mas como quem luta para não sucumbir ao fracasso. 
Reconhecer, renovar, recomeçar. Eis um humilde entendimento. Oro para entender onde estou e nunca me perder de onde quero chegar.





É incrível como tantos dos afazeres da vida estão diretamente ligados às pessoas que amamos, e esse fato muda toda a percepção das ações. É prudente amar sem reservas, pois o amor se expande na entrega. O amor é um mistério, é um ministério, alguém já disse isso, e é lindo.
É por amar que a fonte interior nunca seca e  na sua perenidade  brota  motivação e força transbordante em bem querer.  
Amar é cuidar e o cuidado envolve tantas urgências que não dá tempo de procrastinar e dizer-se desmotivada. Amo, logo ajo, o amor exige compromisso e é com compromisso que atendemos aos seus cuidados. 
Eu me comprometo  com as demandas do amor, comprometo-me com a ternura que todo o amor merece. Oh Deus! Capacita-me hoje e sempre a exercer o amor por completo. 





Jamais terei gavetas organizadas, não consigo lhes dar qualquer prioridade que seja. Minha necessidade maior e que tem me tomado algum tempo é por ordem a meus pensamentos, tarefa que confesso não tem sido nada fácil. E tem me ocupado ao ponto de que quanto mais organizo, mais terreno desconhecido avisto para sanear. Sanear é como curar e muita cura está bem na forma de enxergar. Por isso, o cuidado redobrado com o sentido da visão, pois é como vejo, que ajo e reajo as situações da vida. E quanto melhor a forma que consigo perceber, tanto melhor consigo viver e conviver.
São dois os pontos em que não permito qualquer tipo de anarquia, fé e família. No mais, o caos insiste em ser co-participante dos meus dias.
O que dizem os especialistas? Pensamentos produzem sentimentos, sentimentos produzem  a ações e ações produzem resultados. E lá vou eu organizar meus pensamentos em busca dos melhores resultados.


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Na manhã corrida da minha semana cronometrada, há uma poesia urbana em vias de composição querendo mostrar-se entre o caos organizado da cidade. E nasce e cresce no quotidiano de todos nós, que ora sentimos, ora somos nós autores desatentos e ora despercebida segue seu fluxo no cotidiano da vida, em cada gesto, em cada esquina. 
Mas ao observador cabe tanto ver o belo quanto a desarmonia, e não falo como quem trata de estética, pois o belo é relativo e isso o torna em algo complexo.
Na visão  irretocável,  um  homem altera a paisagem e me perturba dentro: sentado ao chão, as mãos postas à face, como quem de tudo se desespera, como quem da vida e dos homens nada espera.  
Se era desespero,  embriaguez, insanidade, não sei. Nunca saberei. Somente ficou-me a certeza doída das muitas realidades da vida e de um semelhante sentado em sofrimento em uma paisagem tão linda onde nenhum artista jamais o pintaria.
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Certa vez uma pessoa que eu acabara de conhecer em uma sala de espera de um hospital, após pouco tempo de conversa, mirou-me no olhar e perguntou como "eu" estava. Fiquei perplexa. Havia tanto tempo que ninguém me perguntava algo tão pessoal e de uma maneira que me pareceu sincera e que por algum motivo realmente desejava ouvir a resposta. 
Demorei um pouco a me pronunciar, tanto pelo choque da pergunta inesperada,  tanto pela necessidade que tive de me auto avaliar para responder com a mesma sinceridade algo que nem eu mesma sabia e nem me dava conta.
Respondi, procurando palavras, buscando a verdade. Achei que era justo. Sem deixar de perceber com espanto o quanto eu precisava e queria de fato falar. Foi um sentimento indescritível, mas era mais ou menos assim: um estranhamento, porém necessário. Mas minha natureza é contida, entreguei o pude e contive-me.
Ainda assim, obrigada querida desconhecida, e desculpe, pois nem lhe disse ou agradeci, mas naquele dia eu me senti muito importante.
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