CRISE

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Apresentou-se diante de mim um Fogo intenso que bradava ameaças de grande incêndio e devastação, a tal ponto, de arrasar com minha pequena vinha. E nos seus olhos que ardiam desolações, crepitava a violência, avaro e ira. Eu temi e pranteei. Temi pela lavoura, pelos que dela sobreviviam e pela esperança semeada.

Porém, levantei-me do terror e do pranto que me murchou o olhar da colheita por um instante. E vislumbrei no horizonte as horas da esperança, a guerra contra as pragas, o suor, os calos encravados na palma da mão e a ânsia da espera quase materna.

Então, firmou-se meu olhar. Cerrei os punhos, sem violência, mas com a resignação de quem protege sua cria. E disse: Fogo, por que desejas devastar minha vinha? Em que te apraz à destruição obstinada se ao final de teu intento, deixa-me as cinzas da tua própria extinção? Por entre as gerações fez-se notório teu nome, pois te ti o aquecer, moldar e forjar. De ti a luz do astro que dormita na escuridão. Não, não te consumas em ruínas e danos, mas faze perpétuas tuas chamas. Desfaça o furor das labaredas impetuosas e momentânea. Goza da perenidade de ser fonte no esplendor do lume das eras.

Lancei assim minhas palavras sobre as chamas. E elas caiam como respingos tímidos que ressoavam mais intensos a cada momento. Até que transbordaram. Até que conteve o Fogo, e a ira e a desolação. E quando restava pequena e tremula chama, peguei minha lamparina, a guarneci de azeite em abundância, e brandamente transferi o Fogo ao pavio.
E não mais houve ameaças. Verdejou e cresceu a minha vinha. O povo prosperou e gozou dos seus frutos e o fogo dominado cozeu esses frutos.

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