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Hoje eu quero a leveza da pluma. Desejo o rosto todo calmo iluminado e o olhar franco e seguro. Desejo em harmonia os sentidos e o coração sincero e puro. Quero um passo parindo o outro, indo de encontro ao futuro.
Que os gestos sejam suaves e inspirem confiança. Quero em tom perfeito a fala, a palavra que acalma e desperta. Quero o dom de quem se cala e ouve. 
Eu quero a memória das coisas de infância com cheiro de terra molhada da chuva que derrama esperança. E que os frutos do que se espera sejam generosos.
Tem dias que é preciso toda brandura que caiba no peito, toda largura de alma e a fé permeando tudo. Não que nos outros dias não se queira, não se peça, não se busque. É que tem dias que é preciso muito mais, é preciso intimidade com a paz.
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Coberta de sono e sonhos a menina deita em sua cama voadora. Aconchega-se em seu travesseiro de fronha amarela, fecha os olhos e ansiosa espera. Mais um tempo e já dorme, outro tempo e decola. Que frio na barriga! Mas é que sempre vale o susto pra viajar de pijama a bordo da sua cama e orbitar a terra.
E sobe, sobe alto além das nuvens, troposfera, estratosfera, termosfera, exosfera e... Uau! Enfim o espaço sideral. Ela já alcança as estrelas, flutua dona da lua e acena solidária para o astronauta solitário. 
Do alto observa a terra e vê a tristeza dos homens, que a sua irmã mais velha chama de mazelas. Por isso na idade dos sonhos, a menina sonha alto, profundo e verdadeiro. Salva o mundo, combate pesadelos e inventa vacinas para todo tipo de angústia. 
Em sua nave segura, dá asas a imensa busca que a habita e faz grande suas conquistas. Ela, a menina que nem tem consciência da palavra altruísta. 
E quando o cansaço maior lhe alcança, dá corda em sua caixa de música e acorda iluminada de esperança.
É por isso que quando é dia e as tristezas do mundo se mostram mais sérias, ela insiste em sua verdade, que há sempre uma saída.  Há sim, solução a ser construída no mundo da boa vontade. 
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Hoje eu preguei pra mim mesma e levantei a mão e me converti. 
Emaranhada em questionamentos e pressões, eu quis a minha redenção. Mas senti vergonha por querer o socorro só pra mim. Então, eu quis redimir  o mundo das suas dores, eu quis a sua salvação. Eu quis salvar o mundo. 
Eu quis salvar da fome dando comida, quis salvar da ignorância oferecendo educação, eu quis salvar das doenças ofertando cura, quis salvar da maldade, eu quis salvar da malicia, quis salvar da avareza, eu quis salvar da esperteza, quis salvar da violência, quis salvar da amargura, eu quis salvar da falta, quis salvar dos excessos, eu quis salvar...  
E busquei ideias, ideais, pensamentos. Eu fui aos quatro cantos da terra, eu quis a sabedoria dos grandes, quis a filosofia dos mestres, eu busquei nos mistérios do mundo, rastejei buscando um elo, uma luz, perambulei por eras.
Me vi perplexa. Vi que havia sim, soluções para grande parte dos problemas, mas nenhuma salvadora, libertadora, perpétua. Aí eu compreendi, eu calei. Eu me rendi.
Eu não posso salvar o mundo, eu sequer suporto essa carga do desejo que sinto da sua redenção. Eu sequer salvo a mim mesma! É isso. Se eu salvar o homem de todas as suas mazelas, ainda terei que salva-lo de si próprio. Meu Deus, eu que nem salvo a mim mesma.
Aí me converti e chorei e sorri. Meu DEUS, eu preciso da solução que Tu és. Amém. 
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Quando me ocorreu esse pensamento, não me reconheci. Mas era eu já sem desespero, já sem medo, quase dona de mim. Desde cedo  tive e me dei uma liberdade  regrada, algo entre o querer e o discernimento, entre o desbravamento e o medo.  Mas vejo que foi bom e poupou-me de algumas dores. Talvez foi mesmo instinto de sobrevivência.
Hoje vou além da segurança do costume, piso terreno desconhecido, o novo que também intimida, mas que já consigo encarar olhando bem nos olhos e  muitas vezes até prevalecer.
É aí que experimento um sentimento  necessário. Uma compreensão de tempo e espaço. O meu tempo, o meu espaço, a minha experiência e um risco quase calculado. É que viver não tem fórmula, não há equação possível. E vou aprendendo a viver e isso é uma benção.
Agora vejo uma nova geografia, uma exploração responsável, onde aos poucos se alargam os limites e prossigo. Não dá pra dizer o quanto isso me trás de um sentimento de gratidão. E senti-lo representa muito, muito mais do eu diria, mas é agradável e sou novamente grata.
Todos os dias fazemos escolhas e entendo que algumas decisões requerem tempo. É preciso ver, rever, engavetar, redescobrir, compreender. 
Revendo hoje, estou em paz. Sei que segui o melhor caminho.
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Por supor saber a resposta, evitei perguntas essências. Perguntar ofende? As vezes, talvez, não sei. Mas eu não receio a ofensa e nem de me expor ao ridículo. Eu tenho é um medo, um medo espiritual. Meu Deus! É isso que me freia? Que feio ter medo de Deus!
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Foi feito um passarinho ferido que me vi essa semana. Dei um jeito no braço e fiquei sem jeito pra mais nada nessa vida. Meu Deus que dor! Eu vi estrelinhas, eu queria colo, eu queria chorar, eu queria mesmo era gritar.
Mas quando você é valente, metida a forte, ninguém leva muito a sério mesmo. Fiquei quieta. Muita gente pensou que eu estava brava. Brava nada, tava mansa, amansada pela dor.
Mas até que meu esposo me deu crédito e me levou duas vezes pra tomar injeção. Eu tomando injeção! Eu que só de olhar pra uma seringa tenho taquicardia, se aceitei, foi porque o desespero era o meu guia.
Sentir dor às vezes é bom pra gratidão, sabia? Eu garanto. Você só pensa que quando tudo tiver passado, será mais grato pelo tremendo estado do não sentir dor. Aos poucos estou me sentido melhor.

Obrigada Senhor, porque aos poucos estou me sentindo melhor, bem melhor. Amém.

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