OFENSA

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Será que, quando me digo enfadada e suspiro cumprido dizendo que estou cansada, ofendo o lavrador, o gari, a empregada? O reciclador, o pedreiro e tantos outros trabalhadores de duras jornadas? Se ofendo, não é por querer. A gente dá muita volta em torno do próprio umbigo. E em nada justifica a geografia acidentada.
Quando digo que tenho fome, sem o menor pudor da palavra, como se fosse a fome primeira,
fome verdadeira, sei que ofendo ainda mais o que granjeia das sobras seu próprio sustento. O necessitado quando pede, suplica. E não é do jeito que eu imploro suplicante ao meu hidratante que dure mais uma aplicação, e mais uma, até que eu possa repor a fórmula. A banalidade não se explica.
Talvez esse meu cansaço, seja mesmo só o corpo pedindo para es-pre-gui-çar... Assim como quando o corpo tem sede e a gente pensa que é fome. É que o cérebro, faz também as suas confusões. Então, devo comer devagar, devagar, pra não comer mais que a necessidade. Aí, como menos, menos... menos que a vontade.o
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