DAS ANDANÇAS I

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Adolescer em Anápolis... meu Deus que foi com alegria e dor. Que recepção me fez a cidade! Era toda o cheiro, e que cheiro do shampoo colorama de pêssego que havia lá no sobrado da Zenilda. É o perfume que ficou pra vida inteira.
Mas houve a estranheza como quem estranha outro país, outra linguagem. Um estranhamento de cara, cabelos e comportamento das meninas da vila, que também era Formosa, e o choque do meu pequeno mundo P Norte.
Quando cheguei, notei que já se usava maquiagem, e eu que nem parâmetro tinha, sabia que era de forma fina e delicada, mas agredia.
Me agredia o gloss, o baton, as unhas pintadas, os cabelos brilhos, os cachos e os alisados natural, que ninguém diria.
E eu, um espantalho, todo cabelo sabonete e neutrox e kolene quando cabia. E era todo o meu rosto a estampa da molecagem, queimada do sol das tardes em jogos de queimada nas ruas de Brasília. Acho que ainda nem me importava com o shampoo Colorama de pêssego que eu não tinha.
E faço agora a mesma cara de boba-alegre com a qual ando carregando por entre semáforos e buzinas estas lembranças. Mas o engarrafamento e as filas são apenas pretextos do tempo, pois que permitem ao pensamento resgatar a menina.

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