MENINICE II

Estou pequenina em mim mesma cultivando um egoísmo íntimo e certamente indivisível. Só compartilho sua existência como quem obedece com certo emburramento infantil, porém com respeito a um mais velho, para fins de registro diário. Para que não se perca na diversidade e acúmulo dos fatos.
Mas sua natureza não é malévola. É até benéfico, no sentido de que não há gravidade neste sentimento. Trata-se de bobas questões pessoais incompartilháveis, porém apaixonantes. Meus segredos comigo mesma, com juramento de mindinho e demais convenções dos tratados e códigos dos segredos, tão bem conhecidos pelas crianças. E por aí, muito já denuncio.
O que ainda posso dizer sem muito expor, é que todo mundo alimenta dentro de si uma criança entre seus cinco e nove anos de idade, uma princesa ou um super herói. Alimentamos essa criança necessária que nos habita com lembranças de afagos, histórias, coleções de figurinhas, papel de carta, miniaturas, bonecas rabiscadas e tantos outros objetos portadores de porções da nossa infância, da nossa essência. Significados lúdicos eternos que nos fazem regressar e ver-nos em cenas tão reais da nossa meninice, como se fosse o agora.
Quando volto a um certo dia da minha infância e me vejo ali no quintal enorme, o enorme da memória, cercado por pés de Adália, eu construindo uma cidade com pedrinhas enfileiradas. Quero chegar perto e ajudar a menina. Quero buscar as pedrinhas que estão longe, as falsas gemas, os falsos diamantes que ela colecionava na gaveta da estante. Quero encontrar uma que seja rara e trazer para menina que brincava de construir em uma tarde cinza, sozinha, enquanto seus pais brigavam.
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