UM DIA

O
Um dia, quando pensei que era o fim do mundo e o fim de tudo, acordei assustada com um diagnóstico como quem se apavorasse com um telejornal avisando da bomba atômica. Fiquei atônita e silenciosa. E não podia fazer alarde e a culpa era de ninguém. Não chorava pra não avaliar ainda mais a delicada imunidade.
E pensando que era o início do fim, percebi que havia acontecido o início de tudo e todos para mim, porque  quando as perdas são irreparáveis é que o valor que cada coisa tem se sobre sai. Foi a partir de então que o dia amanheceu ainda mais belo e desejável e a noite escura, fria ou quente, era a mais linda que havia. E já não irritava o trânsito externo e o metrô em seus trilhos de ferro e nem tão pouco as marteladas da civilização. E era como música as crianças em gritos de vida no parquinho do prédio.
Em dias em que tudo pareceu-me tão grave, a graça ocorreu com mais facilidade e a tolerância tornou-se um patrimônio valioso. Quando os dias futuros se mostraram assim, inatingíveis, caminhar foi uma forma de buscar alongar a existência e não desejei coisas e marcas ou sucesso, só e apenas uma oportunidade.
Um dia quando pensei que era o fim de tudo e esse tudo era o meu mundo, testemunhei como testemunhamos todos os dias o sol nascendo e alargando seus raios em abraços calorosos, o reinício da vida. Da minha vida.
O

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